Crítica: Wonka (2023), de Paul King
Wonka tem seus momentos divertidos, mas carece de um estilo marcante que tenha uma finalidade maior.
Existe um momento na versão de 2005 de A fantástica fábrica de chocolate no qual um dos meninos critica toda a criação de Willy Wonka: “Por que tudo aqui é completamente sem sentido?”, ele diz, enquanto os visitantes da fábrica andam em um elevador de vidro no meio de uma guerra de fogos de artifício. Charlie, o protagonista, responde com sua honestidade: “Chocolate não precisa ter sentido. É por isso que é chocolate”. Embora essa frase capture uma essência lúdica, o contraste com a funcionalidade moral do filme é marcante: em certo nível, ambas as versões da história orquestram um princípio moral de ensinamento por meio de uma subversão do arquétipo do infantil. Em outras palavras, é por meio de objetos imaginativos postos com uma roupagem de horror que se constrói uma missão fabulística. Wonka (2023), por sua vez, tem dificuldades para encontrar sua bússola para tal objetivo.
Baseada no clássico livro, Wonka mostra as origens da história do jovem Willy Wonka (Timothée Chalamet), antes de se tornar a mente brilhante por trás da maior fábrica de chocolate de todas. Cheio de ideias e determinado a mudar o mundo, o jovem Wonka embarca em uma aventura para espalhar alegria através de seu delicioso chocolate. No meio de sua missão de se tornar o maior chocolateiro já visto, seus sonhos são interrompidos por um grupo de empresários que não acreditam no potencial do doce, mas, sim, do dinheiro.
O maior problema com Wonka é sua carência de um estilo marcante que tenha uma finalidade maior. Nos anos 1970, quando foi lançada a primeira versão, os efeitos práticos e especiais não eram tão refinados, mas isso não impediu que essa edição fosse igualmente mágica. Décadas depois, em 2005, a releitura da história feita por Tim Burton foi visualmente mais apelativa e seu estilo mais ousado, ainda que seu enredo tenha sido mais vazio. Nesse novo longa, no entanto, o visual está acima de tudo, mas sua falta de complexidade é evidente: remontando um estilo parecido com os de suas outras obras, Paul King apresenta um universo relativamente infantil, mas a falta de elementos de terror, nesse caso, não consegue criar um fio moralista presente nos outros filmes. O resultado é uma narrativa não tão profunda.
Em paralelo, embora King tenha uma visão de um universo realmente lúdica — especialmente vista em As aventuras de Paddington (2014) —, tudo em Wonka é terrivelmente sem graça. Enquanto as músicas são inferiores e menos memoráveis, os maquinários do chocolateiro raramente impressionam. Em partes, isso se advém, novamente, da falta de contraste: ao passo que todo o universo é pintado com tons fantasiosos, o inimaginável perde realce. Isso, por sua vez, é contornado em outras versões: na primeira, o irreal chama atenção no meio de um mundo realista, ao passo que na segunda, os tons coloridos são um chamariz para uma diegese toda cinzenta. Essa falta de choque na obra de 2023 entre dois mundos é o que torna tudo tão sonso.
No meio tempo, Wonka tem seus momentos divertidos, mas o roteiro fraco e o fato de Timothée Chalamet não ser um bom Willy dão uma amargada no doce. Fortemente marcado pelo mickey mousing, os novos caminhos da história são calorosos, mas sua potência é voltada inteiramente para o drama do passado e não pelo anseio de um futuro. Para uma fábrica tão fantástica, a história de seu criador não tem tanto charme assim.