Crítica: Longlegs: Vínculo Mortal (2024), de Osgood Perkins
Longlegs: Vínculo Mortal (2024) impressiona, mas quando suas cores perdem a graça, sua história não sustenta uma obra que quer ser mais legal do que consegue.
Entre dezembro de 1968 e outubro de 1969, um assassino em série sondou algumas cidades da Califórnia, matando cinco pessoas — fora duas que conseguiram escapar de suas mãos. O homem, que nunca foi encontrado, cunhou seu próprio nome por meio de uma série de símbolos que encaminhava para os jornais locais: O Zodíaco. Junto com isso, ele enviava ameaças de morte e bombardeio caso suas cartas não fossem publicadas. Desde lá, esse serial killer se tornou um elemento da cultura pop, sendo referência direta para filmes documentais, mas, também, servindo como inspiração para personagens da ficção — como o vilão de Seven: Os Sete Crimes Capitais (1995). Em Vínculo Mortal (2024), a história do Assassino do Zodíaco é trabalhada novamente. Embora dessa vez as formas e cores sejam as mais legais e originais, sua narrativa sofre para se manter minimamente interessante.
No filme — que é a estreia do diretor Osgood Perkins dentro do circuito mainstream —, Lee Harker (Maika Monroe), uma talentosa nova agente do FBI, foi designada para um caso não resolvido de uma série de assassinatos seguidos por suicídios, orientada pelo agente Carter (Blair Underwood). Harker aparenta ter o dom da clarividência, bem como tenta manter uma relação complicada e distante com sua mãe religiosa. Na investigação, descobre-se que, em cada caso, o pai mata sua família e, posteriormente, se suicida, deixando uma carta assinada “Longlegs”, com uma caligrafia que não pertence a ninguém da família. Conforme as pistas do caso se revelam, Lee percebe uma possível ligação pessoal com o assassino implacável e deve escolher entre a justiça e sua família, usando seu passado como bússola.
O que faz Vínculo Mortal brilhar é sua adoção da tendência A24 de filmes de terror. Em outras palavras, o longa-metragem assume seu estilo como elemento mais importante. Isso, no entanto, não significa que a história e o horror são deixados de lado, mas que essas duas instâncias são flexionadas pela forma do filme. Ou seja, o enredo e potência de aversão se dão por um viés de estilo e não, propriamente, pela essência da sua existência. Como consequência, tudo que há de mais interessante em Vínculo Mortal parte do seu visual, que assume padrões não-ortodoxos. Nisso, o filme é registrado quase do seu próprio jeito: uma lente grande-angular dentro de ambientes fechados cria um paradoxo entre sufocamento simbólico e distanciamento das personagens. Para mais, efeito de dolling zoom em cenários estranhamente simétricos, ao lado de ângulos tortos, fazem de Vínculo Mortal não apenas bonito, mas igualmente desconfortante.
Embora Osgood Perkins não seja tão competente em manter ritmo — considerando que, em sua segunda metade, o filme perde um pouco da sua força e recai em instantes que lutam para chamar atenção —, ele consegue criar uma obra de terror eficaz e funcional. Grande parte disso advêm justamente da decupagem, que cria não apenas uma atmosfera, mas sim uma distorção dessa ambientação — volto para o uso das lentes angulares que casualmente deturpa as noções da forma humana. Isso alinha-se como um estranho instrumento que mantém o espectador em seu papel voyeurista, ao invés de inserir ele na diegese, o que faz com que os sustos sejam mais potentes e a realidade menos concreta — de uma forma boa. No final, por mais que os artifícios sejam genéricos, eles funcionam.
Por outro lado, o estilo de Vínculo Mortal perde força quando todas suas escolhas se assentam e você percebe que, talvez, a história não seja tão diferentona assim. Embora eu ainda veja uma relação, mesmo que de inspiração, entre o assassino Longlegs do filme e o Zodíaco da realidade, não esperava que a narrativa de uma obra que se apresenta de maneira tão cool fosse ficar tão aquém, com um desfecho que carece de criatividade. Em suma, a relação de Harker e o Longlegs (Nicolas Cage) acontece na infância, quando ela e sua mãe, Ruth, são abordadas por ele e a mulher é obrigada a escolher entre a vida da filha ou se tornar cúmplice dos assassinatos. Com isso, enquanto Longlegs cria bonecas amaldiçoadas, Ruth, disfarçada de freira, sai distribuindo os brinquedos para as famílias, o que acaba causando os assassinatos. No meio tempo, uma boneca com feições de Lee protegem sua memória. Honestamente, esse é um desfecho legal, mas acho que todos esperavam um pouco mais.
Vínculo Mortal, em poucas palavras, acaba sendo uma obra que parece muito mais legal do que realmente consegue ser. Quando todos os passos narrativos são desvendados, você percebe que a estratégia foi de vestir uma máscara mais densa e complexa e de não assumir uma certa trivialidade. Nesse tempo, talvez, além de toda parte visual, o chamariz acaba sendo tanto Alicia Witt quanto Maika Monroe, ambas com ótimas performances — além da segunda estar se tornando uma queridinha dentro do mercado de terror. Mas, no final, as pernas longas eram curtas, senão mancas.